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São Vicente/Óbito: António Sabino escreve sobre a morte de Amílcar Spencer Lima, ativista pela causa da independência nacional e ex-Secretário de Estado de Turismo 18 Mar�o 2023

Amílcar Spencer Lima, ex-Secretário de Estado de Turismo no governo de José Maria Neves, faleceu, nesta quinta-feira,16, no Mindelo, vítima de doença prolongada. Economista de profissão, Picau, como era conhecido, foi um colaborar do A Semana (responsável financeiro e distribuidor na fase inicial do jornal no Mindelo), um lutador pela causa da independência nacional como homem de esquerda convicto, ativista sindical e incentivador da leitura e ciência com a sua participação na criação da extinta COLIDIC - cooperativa de livros. "Nos últimos tempos, Amílcar Spencer Lima acabou quase, por se isolar, penso eu, por uma questão de coerência de princípios e passar a fazer uma vida puramente intelectual, tendo mesmo publicado um livro, que mereceu um prémio. Se quisesse falar sobre o meu grande amigo-irmão e camarada Picau, teria muito que dizer. Por isso, realço que foi uma honra ter convivido e trabalhado com ele em todo o processo que precedeu à Independência Nacional", escreve o engenheiro António Sabino (Txebas), que, como seu amigo de longas jornadas, traça o perfil de Picau, no post colocado na sua página de Facebook, que publicamos a seguir.

São Vicente/Óbito: António Sabino escreve sobre a morte de Amílcar Spencer Lima, ativista pela causa da independência nacional e ex-Secretário de Estado de Turismo

Despediu-se de nós o grande amigo-irmão e camarada, Picau, Dr. Amilcar Sousa Lima. Cabo Verde perde aquele que desde a infância, e dos tempos do Liceu Gil Eanes, esteve envolvido de coração e alma, como actvista dinâmico e coerente, na luta pela causa da liberdade, da justiça e da Independência Nacional. Enquanto estudante da Economia em Portugal participou activamente nos movimentos estudantis e na criação das organizações anti-coloniais, não só como activista mas, sobretudo, como militante do PAIGC na diáspora. Abandonou os estudos, temporariamente, para regressar a Cabo Verde onde continuou ainda, de uma forma mais activa, a contribuir para o desenvolvimento do processo em curso, sempre com uma visão clara e coerente baseado nas suas opções filosóficas de um mundo justo, humano, inserido na corrente moderna dos tempos e desprovido de qualquer tipo de oportunismo.

Em São Vicente, foi um dos membros activos do sindicato dos trabalhadores, sabendo sempre, com determinação, separar a sua qualidade de militante do PAIGC da sua responsabilidade como sindicalista coerente e defensor dos interesses dos trabalhadores. Criou em colaboração, a famosa COLIDIC - Cooperativa Livreira de Divulgação Cientifica que contribuiu seriamente para a promoção da intelectualidade e o debate de ideias na nossa sociedade. Ajudou a organizar manifestações de apoio às comemorações da independência das ex-colonias portuguesas, destacando-se a independência de Moçambique. Incentivou e apoiou na criação de cooperativas independentes, na sua fase embrionária, destacando-se as cooperativas dos pescadores de Mindelo, Salamansa e São Pedro e, como forma de conseguir fundos para a consolidação das cooperativas, propôs a realização de eventos, tais como teatros populares sobre a luta de libertação nacional e dos trabalhadores. Os fundos angariados foram utilizados para a melhoria das condições de conservação e venda de pescados, sendo exemplo a reparação do mercado de peixe do Mindelo.

Em 1974 durante o período de romantismo politico, fomos ensinar no liceu actualmente conhecido por Liceu Ludgero Lima, nome que foi proposto por Amilcar Lima e colegas professores mas, a melhor contribuição dada ao ensino em São Vicente deve-se ao facto de, termos reagido de uma forma muito eficaz e construtiva, na qualidade de membros do conselho coordenador, contra uma proposta que consistia no encerramento do liceu, visando libertar os alunos para actividades politicas.

Nos últimos tempos, Amilcar Lima acabou quase, por se isolar, penso eu, por uma questão de coerência de princípios e passar a fazer uma vida puramente intelectual, tendo mesmo publicado um livro, que mereceu um premio. Se quisesse falar sobre o meu grande amigo-irmão e camarada Picau, teria muito que dizer. Por isso, realço que foi uma honra ter convivido e trabalhado com ele em todo o processo que precedeu à Independência Nacional.

Resta-me apresentar os meus sentidos pêsames à família enlutada, particularmente, à Dona Lina, Vânia e Filipe e que Deus lhe dê um descanso merecido ao seu lado, reservado às pessoas de bem. Adeus Picau e até um dia!!!

Engenheiro António Sabino (Txebas)

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