O Reino Unido é que, ao contrário da Austrália, tomou o caso a peito, com o governo de Boris Johnson a protestar diante da decisão de Bruxelas.
"Entendemos bem que haja acordos específicos entre países e fabricantes de vacinas. Mas o primeiro-ministro e a presidente [da Comissão Europeia] conversaram no início do ano e a sra. Van der Leyer confirmou que o foco do mecanismo [lei de conantrolo das exportações de vacinas produzidas na Eurozone] era a transparência e não visava restringir as exportações de companhias que cumprem as suas responsabilidades contratuais", disse na sexta-feira o porta-voz do executivo britânico na conferência diária no Número 10 da Downing Street, a sede do governo.
"Temos a expectativa de que a União Europeia vai continuar a manter os seus compromissos. A saída desta pandemia global depende da colaboração internacional. Estamos todos dependentes das cadeias globais de fornecimento e se criamos restrições isso vai pôr em perigo os nossos esforços globais para combater o vírus", disse em Londres o porta-voz.
OMS preocupada com controlo na Eurozone
No mesmo sentido de Boris Johnson, a OMS-Organização Mundial de Saúde já tinha, em finais de janeiro, expressado "preocupações" diante do mecanismo de controlo da União Europeia que "pode vir a perturbar as cadeias de fornecimento globais".
A Europa é a maior produtora mundial de componentes das principais vacinas anti-Covid em uso (BioNTech-Pfizer, Moderna, AstraZeneca). Produzidas na Itália, Bélgica, França, Espanha, Alemanha e Paíse-Baixos, as vacinas (por embalar) são depois exportadas para países da Eurozone e vários outros fora da Europa como o Canadá, Japão, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos.
A OMS teme agora que depois do primeiro passo dado pela Itália, outros países europeus que são "cruciais" enquanto "cadeias de fornecimento globais" possam seguir o mesmo caminho para manter mais vacinas na Europa.
Nacionalismo vacinal? França e Espanha... Alemanha apoiam Itália
Depois da Itália, a França anunciou na manhã de sexta-feira que apoia a decisão italiana e que o país "pod[e] vir a fazer o mesmo", segundo disse o ministro da Saúde, Olivier Véran.
Entrevistado na emissora BFM, Véran expressou: "Quanto mais doses de vacinas a França tiver, mais feliz fico como ministro da Saúde. A Françe tem o direito de falar com os seus vizinhos europeus para garantir que os laboratórios respeitam os seus compromissos e contratos. Isto para mim é o mais básico do senso comum", rematou o ministro francês.
Também o Ministério espanhol da Saúde em comunicado garantiu que as várias unidades de produção de vacinas contratadas no país serão fiscalizadas, com vista a controlar o destino das vacinas ali produzidas.
AstraZeneca na Austrália
O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, expressou na sexta-feira que compreeende a decisão do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi.
A Austrália recebeu 300 mil doses da vacina AstraZeneca, mas de seguida a segunda encomenda de 250 mil doses foi alvo de pedido de bloqueio por parte do primeiro-ministro italiano.
A presidente da Comissão Europeia autorizou o bloqueio, dada a situação italiana que já regista 100 mil óbitos, o cêntuplo da Austrália (com 909 óbitos).
Fontes: BBC/ABC.au/Le Figaro/Outras. Fotos (AFP): O primeiro-ministro italiano Mario Draghi (ao centro), peso-pesado da política europeia, que entrou no governo em fevereiro para priorizar o combate à Covid, está a usar todos os meios para isso e conta com a UE presidida por Ursula Van der Leyer. À esquerda, Boris Johnson, em defesa da inglesa Astrazeneca. À direita, Scott Morrison que após receber 300 mil doses se mostra compreensivo com o bloqueio de 250 mil doses, dada a situação italiana que já regista c.100 mil óbitos, 10.000% (=100 x) mais que os 909 da Austrália.