Ela ’criou-o com água da sua boca’
que filtrou tudo o que não era bom.
Ela ensinou-lhe tudo com carinho
em tudo guiada pela fé na boa natureza.
E o menino da sua mãe cresceu em ternura
adulto forte na dor para proteger os mais fracos
— pequeninos que elevou a iguais, dignos do seu amor.
2ª
Ela pela pátria ouviu a voz do capitão
Ela mãe calou a voz do coração:
mandou-o ser soldado para defender a pátria.
E ei-lo combatente de grandes guerras
de muitas cores e pátrias
emigrado do sul das buganvílias
Migrante até do sul mais a sul
para o mar
para as trincheiras de lama e morte ao norte
onde só a sorte dita quem sai com vida
e a bruta lei dita a morte do outro
já não irmão mas inimigo a abater.
3ª
O menino da sua mãe de coração forte e terno
aprendeu no duro treino a ser duro
"porque não podes ser irmão do inimigo"
"tens de disparar contra quem te pode abater".
4ª
Até que um dia na sua trincheira
um pequenino veio lembrar-lhe a ternura original.
Mas não, o encontro foi só um hiato
sem pontes para a solução.
É que a guerra é feia
é aquele monstro que só gera dor
tanta dor, tanto maior
que o menino virado soldado
sentiu com maior dor
o seu destino de carne para canhão.
Disparou a arma.
"Porque é que não podemos ser irmãos?"
5ª ...E as meninas cem anos depois
nas guerras em casa e no mundo
"guerras", metáforas pois, e guerras sem fim até nuclear
Elas aprendem
que a boa natureza tem de combater as armas
com a arma da consciência.
Elas de quem a mãe diz em línguas sem história escrita
’criei-te com água da minha boca’.
Água que filtrou tudo o que não era bom
preparou-as para filtrar o que é bom
o que vem de dentro e é cultivado no mundo
para fazer crescer o bem igual
na mira de soldados e generais
agora sobretudo metáforas
dos que no mundo lutam pelo bem
para tornar o mundo em eutopia, o bom lugar.
(Reflexões de sábado 10 de junho 2015 deram "Pátria exige à mãe os soldados")
MLL