Denominada “A Diversidade nos Enriquece: Independentemente da nacionalidade, origem ou religião, todos nós contribuímos”, a campanha vai ser realizada durante um ano em todos os municípios do país, com várias ações de sensibilização junto da sociedade cabo-verdiana, em diversos meios e plataformas, como escolas, universidades, comunicação e redes sociais.
Mas também vão ser criadas unidades locais de atendimento aos imigrantes em todo o país, criação de condições para a integração dessa população, com ações de formação e de facilitação no acesso ao mercado de trabalho.
A diretora da AAI, Carmen Barros, explicou que Cabo Verde é um país tradicionalmente de emigração, estimando-se a existência de mais de um milhão de cabo-verdianos e descendentes no estrangeiro, mas que a partir da década de 1990 começou a registar um aumento do fluxo imigratório no seu território.
Reconhecendo o “contributo incomensurável” da imigração, a responsável disse que nem sempre há um acolhimento bem-sucedido no arquipélago, sendo previsível o preconceito e a estranheza, mas salientou que o que não é nem natural nem previsível é a discriminação.
“Mas nós estamos também numa lógica muito positiva da imigração, reconhecer, valorizar e divulgar aquilo que é a contribuição dos imigrantes em Cabo Verde, em vários domínios”, referiu Carmen Barros, dizendo que a campanha foca-se sobretudo em termos profissionais, mas também na convivência cultural, gastronomia, danças, músicas, desporto, economia ou política.
Para o ministro da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social, Fernando Elísio Freire, trata-se de uma iniciativa para afirmar Cabo Verde como um país de diversidade, que pretende acolher a todos por igual.
“Porque nós somos um país maior, cosmopolita, muito mais inclusivo e desenvolvido, se tivermos capacidade de sermos um país de diversas origens, de diversas culturas e de diversas tradições”, frisou o ministro, para quem a diversidade enriquece e permite ao arquipélago ter paz e liberdade.
Reconhecendo que Cabo Verde é hoje um país com mais diversidade e é muito mais tolerante, o governante entendeu, porém, que ainda há um caminho a percorrer para maior capacidade de aceitar a diferença.
“E é este caminho que temos de continuar, que vai muito para além da legislação, vai muito para além de instituições, têm que ser as pessoas no seu dia-a-dia a praticarem isso, e acreditamos que com essas ações é que conseguimos pôr uma criança a ver que o mundo é multicolor, a ver que as pessoas são diferentes, que as pessoas têm tonalidades diferentes, têm culturas diferentes, têm formas diferentes, e que tudo é normal e que todas as pessoas são pessoas”, frisou Elísio Freire, prometendo continuar a fazer esse trabalho no arquipélago.
Com a campanha, Cabo Verde pretende ainda contribuir para melhor conhecimento do perfil da imigração e da diversidade cultural, de origens e de religiões ligadas ao fenómeno migratório, para eliminar estereótipos e mitos associados.
Mas também reforçar a importância da diversidade cultural no país e destacar e valorizar a contribuição dos cidadãos estrangeiros e imigrantes no processo do desenvolvimento de Cabo Verde em diferentes setores.
A iniciativa, lançada na semana em que foi assinalado (21 de março) o dia internacional de luta para a eliminação da discriminação racial, conta com o apoio financeiro da União Europeia e insere-se no projeto “Coop4Int – Reforço da Integração de Migrantes, através da Cooperação entre Portugal e Cabo Verde”, lançado em dezembro de 2022 e com duração de 37 meses.
Além da AAI, o Coop4Int é implementado pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM) de Portugal, pelo Iscte-Instituto Universitário de Lisboa e pelo Instituto Politécnico de Bragança (IPB).
De acordo com os dados preliminares do primeiro inquérito sobre população estrangeira e imigrante em Cabo Verde, publicados em dezembro, estima-se a existência de cerca de 11 mil imigrantes ou estrangeiros no país, que representam 2,2% da população total residente, que ronda os 490 mil.
A população estrangeira é constituída sobretudo por homens (68,3%) e globalmente a Guiné-Bissau lidera entre as nacionalidades (33,7%), seguida do Senegal (11,3%), de Portugal (10%) e da China (7,1%).
O Governo de Cabo Verde lançou em 2022, entre janeiro e junho, um processo de regularização extraordinária de cidadãos estrangeiros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), mas cidadãos de qualquer outra nacionalidade também poderiam aceder.
A Semana com Lusa